segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

retomada e mudanças

olá a todos!

estou retomando meu blog, no http://falandosobreoncologia.wordpress.com/
inicialmente vou repostar meus textos deste site, para em seguida continuar com novas informações

gostaria muito que vocês continuem a me acompanhar!!

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Sobre Quimioterapia

Em todos os posts que escrevo, de uma maneira ou outra a quimioterapia está envolvida. Isto ilustra o papel de tal tratamento no dia a dia do oncologista. É o tipo de medicação que está sempre atrelado ao mencionarmos o câncer, e é dela que muito do medo que envolve a oncologia se origina. Muito falamos sobre a quimioterapia, mas sabemos o que é realmente? Sabemos para que serve? Muitos podem pensar que sim, mas geralmente estão errados



Partimos do principio que a neoplasia (outro nome para o câncer) se origina de células normais do corpo humano, e que em algum momento perdem suas funções naturais, passando a se replicar desordenadamente e indefinidamente. O tratamento, portanto, envolve controlar a multiplicação celular desordenada, ou destruir as células doentes. Os mecanismos pelos quais as medicações atuam são vários, e nem todos exatamente conhecidos. Fato é que hoje existem dezenas, senão centenas de medicações diferentes para os vários tipos de tumores conhecidos.



A quimioterapia pode ser usada em várias situações: Curativa, adjuvante, neo-adjuvante e paliativa



Quando curativa, nas doenças hematológicas e tumores de testículo, por exemplo, o uso exclusivo da quimioterapia pode promover a resolução completa e definitiva do problema, sem a necessidade de outras modalidades de tratamento.



Na adjuvância, a medicação é usada após um tratamento definitivo (geralmente a cirurgia, mas a radioterapia também se inclui). A doença é totalmente removida, e em seguida procura-se aumentar as chances de cura ao indicar um fármaco que é capaz de destruir eventuais células doentes, não detectadas pelos exames de rastreamento atuais. É muito usada principalmente em doenças como o câncer de colon, reto e mama.



Na situação neoadjuvante, opta-se por realizar a quimioterapia antes do tratamento definitivo, com intuito principal de reduzir o tamanho da lesão, permitindo que a cirurgia possa ser realizada de maneira mais tranqüila e conservadora, mutilando menos o paciente. O câncer mama, reto e laringe são os alvos principais deste tratamento.



Por fim a paliação. Muitas vezes incuráveis, as neoplasias mesmo assim podem ser controladas de maneira eficaz com a quimioterapia. Nesta situação procura-se aumentar o tempo de vida, mantendo sua qualidade, com o controle da dor e de outros sintomas, como falta de ar, tosse, problemas ósseos, entre outros. Busca-se sempre a opção com menor potencial tóxico e a maior chance de promover benefícios, sabendo que o bem-estar é o principal objetivo a ser atingido



Essas quatro situações fazem parte do cotidiano do oncologista. Como podemos notar, apenas uma delas é realizada na vigência de doença incurável. Enfatizo, portanto, que a quimioterapia não é uma sentença de morte, e sim um tratamento medico validado e muito importante no manejo desta doença tão complicada.



No próximo post discutirei sobre os efeitos colaterais da quimioterapia

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Oncologia e religião

Estive recentemente em um congresso sobre bioética e medicina paliativa aqui em Londrina. Embora as palestras dos meus colegas da saúde tenham sido extremamente interessantes, confesso que a que mais me chamou a atenção foi a de um teólogo, explicando sobre o papel da religião e espiritualidade no paciente terminal.


Como a oncologia envolve muitas pessoas na terminalidade, achei pertinente. Vou deixar claro que não sou teólogo, não entendo de teologia e nem de filosofia, e por isso já peço desculpas de estiver falando alguma besteira ou redundância.


A primeira consideração interessante colocada foi sobre a integralidade do ser humano. Não se trata o corpo sem tratar o emocional. Citou a historia de uma moça que tentou se matar, não conseguiu, ficou vários dias na UTI, todo o investimento para salva-la. Assim que recebeu alta ela vai e pula de um prédio. Essa pessoa foi tratada? Do ponto de vista biológico sim, mas o resultado final fala por si mesmo.


Tais abordagens foram citadas como “máximos e mínimos.” Mínimos são as atividades e cuidados que todas as pessoas tem direito e deveriam receber: higiene, medicação, dignidade, tratamento médico. O Máximo seria todo o suporte que em um primeiro momento pode parecer trivial para o profissional que está afundado nos problemas do dia a dia: suporte emocional, psicológico, espiritual. Todos os complementos mais “elaborados” que na maioria das vezes passam batidos pela equipe médica, mas para o paciente fazem toda a diferença.


O mínimo, todos deveriam receber. Isso é lei, está na constituição. O máximo deveria estar à disposição, e ser oferecido às pessoas que o procuram


Aí entra o papel da religião. Não sou uma pessoa religiosa, mas só quem vive o que o oncologista vive para saber que a maneira que uma pessoa reage psicologicamente frente à doença faz toda a diferença. O otimista, quem tem fé, quem encara a situação de cabeça erguida, por algum motivo sempre suporta melhor, recupera melhor, acaba o tratamento mais rápido. Nada de ciência nisso, só uma observação pessoal.


Ter aonde se apoiar é valiosíssimo. O exercício de fé de algumas pessoas é suficiente para levá-las até o fim do tratamento sem tanto sofrimento, ou pelo menos com um sofrimento melhor elaborado pelo individuo. A fé como recurso de suporte é extremamente importante, quando presente em “medidas terapêuticas.” Não é o caso da pessoa que abandona o acompanhamento medico porque fez uma cirurgia espiritual ou foi exorcizado ou qualquer outro recurso cientificamente não-válido. Já falei em posts anteriores que não tenho nada contra esses procedimentos, com exceção daqueles que estimulam a pessoa a abandonar o tratamento cientificamente comprovado.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

domingo, 6 de dezembro de 2009

Sobre Oncologia e Ciência- parte 2

Nota- estou tentando editar esses textos para ficarem melhor visualmente, mas algo nesse blogspot nao está me permitindo. Assim que descobrir o que é melhorarei o aspecto dos textos ok?


Os estudos em humanos vem em 3 fases. Os de fase I vêm logo após as pesquisas “pré-clinicas” (em animais, células ou outros agentes de teste), e servem basicamente para avaliar a dosagem segura da medicação. De maneira geral, envolvem poucos pacientes. Os de fase II são maiores em vários aspectos. Com a dose já definida, administra-se nas pessoas e se observam resultados, como redução do tumor, efeitos tóxicos, etc. Os de fase III são de grande porte, e são eles que mudam nossa conduta de consultório. Pega-se a medicação em avaliação e compara-se com o melhor tratamento vigente no momento. Basicamente formam-se grupos (“casos e controles”) com diferentes esquemas de tratamento e faz-se uma comparação


Existem implicações éticas muito interessantes, e o rigor de monitorização é extremamente alto. Por exemplo, não há como privar um grupo de pessoas do melhor tratamento existente para testar outra medicação de eficácia desconhecida. A solução para isso é dar o melhor tratamento para todo mundo e ADICIONAR a droga em teste em um dos grupos, com isso todos estarão bem tratados.


Outra salvaguarda interessante são as análises de segurança. Caso se perceba que o grupo em teste está sendo mais prejudicado por efeitos tóxicos intoleráveis, o estudo acaba antes da hora. Por outro lado, caso note-se que as pessoas em teste estão indo MUITO melhor que o grupo de controle, encerra-se a pesquisa e todo mundo passa a receber a nova medicação.


Esse tipo de atividade geralmente é financiada pelas indústrias farmacêuticas, sendo extremamente interessantes especialmente para pacientes do SUS, ocasionalmente privados dos melhores tratamentos, mas quando incluídos em pesquisa clinica passam a receber o que há de mais novo na ciência mundial. Existem centros de estudos em quase todas as capitais, mas a quantidade ainda é pequena, considerando a demanda de pacientes que temos no país. Aqui em Londrina, por exemplo, está sendo criado um centro dentro do Hospital do Câncer, após décadas de história do hospital.

O retorno...

Olá!


Antes de mais nada um agradecimento ao repórter Thiago Nassif por ter citado meu humilde blog na Folha de Londrina :-)

Em segundo lugar minhas desculpas pela minha ausência prolongada. Muitas coisas relacionadas à saúde aconteceram em Londrina recentemente, e nenhuma foi boa. Isso me deixou um pouco desanimado em escrever, mas estou de volta a ativa!

Vou retomar a segunda parte do que eu planejava falar, que era pesquisa clinica e oncologia. Depois disso estou aberto à sugestões sobre tópicos, é só comentar aqui.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Sobre Oncologia e Ciência

Confesso que demorei mais do que esperava para fazer esse próximo post. Nunca imaginei que falar sobre morte é mais fácil que falar sobre ciência para leigos. Basicamente minha intenção será explicar para vocês por que tomamos as decisões que tomamos, seja na esfera terapêutica quanto profilática ou diagnóstica.

Tudo o que fazemos na medicina é baseado em ciência. Nossas decisões, nossos estudos, nossos norteamentos, sempre são embasados em fundamentos científicos. Embora isso possa soar um pouco “etéreo”, esse tipo de raciocínio é o alicerce de qualquer ação tomada no nosso dia a dia

Por que prescrevi a droga A, que faz cair cabelo, em vez da droga B que é um comprimido tranqüilo de tomar? Por que peço apenas uma mamografia anual em uma mulher se na outra peço tomografias trimestrais, ressonância e PET-Scan? Questionamentos assim são freqüentes, especialmente após o paciente ter ficado na sala de espera do consultório comparando seu tratamento com o de outro que estava sentado ao seu lado.

Obviamente essas decisões não são aleatórias, elas vêm de uma linha de raciocínio que é a “medicina baseada em evidências”. Explico: acreditamos naquilo que foi testado, comparado e comprovado. Se perguntam a um cientista se a garrafada comprada na feira cura câncer a resposta ideal é “não sei”, simplesmente porque a garrafada nunca foi testada ou comparada com um tratamento comprovadamente eficaz.

A falta de ciência na tomada de decisões pode variar de inócua a perigosa. Muitas vezes o paciente me diz que parou de tomar o remédio de enjôo porque achou um suco de frutas sensacional que está funcionando muito melhor que o remédio. Existe ciência nisso? A princípio não, mas o tal suco está resolvendo o problema do paciente. Quem sou eu para dizer que o suco não faz efeito?

Por outro lado, não há escassez de pessoas que irão se aproveitar do desespero do paciente para vender milagres, algumas vezes até orientando que se abandone o tratamento com o médico para seguir com o “milagreiro”. Nesses casos eu me posiciono contra, e deixo bem claro minha opinião. Não me incomodo que o paciente faça suas simpatias, siga suas superstições. O que não se pode é abandonar a ciência por completo. Já vi gente pagar um preço alto demais por causa disso.

No próximo post vou falar sobre como são feitos os estudos científicos, e por que eles são bons para nós médicos e para os pacientes.